quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

"...e que nada nem ninguém é mais importante do que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação, desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes."

Sade

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Éramos dois donos dos mesmos sonhos,
Éramos de nossa mesma luta diária,
Éramos de amor, uma grande colônia,
Que se refazia nas noites por mãos solidárias.

Éramos de pão e vinho, de um Deus que se doara,
Éramos como a flor e o espinho, ali chegados,
Eram nossas dores partidas ao meio, choradas,
Eram nossas as mesmas lágrimas, que nossos olhos molhavam.

Éramos como mãos seguras no mesmo cabo,
A força depreendida, o que realizávamos,
Do estampido amor, dínamo, do tempo arado,
Fomos os plantadores dos primeiros ramos.

Fomos até hoje crepúsculo, e manhã nascente,
Somos complacentes das dores que passam os outros,
Somos com a faca e bainha, que se cabem,
A não deixar espaço, e somos o ferro e o couro.

Naeno Rocha

sábado, 2 de novembro de 2013

BRISA MARINHA

A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,
Ébrios de se entregar à espuma e aos céus
[ imensos.
Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar
Ó noites! nem a luz deserta a iluminar
Este papel vazio com seu branco anseio,
Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio. 
Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas,
Ergue a âncora em prol das mais estranhas
[ plagas!

Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,
Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!
E é possível que os mastros, entre ondas más,
Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem
[ mas-
Tros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar...
Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do
[ mar!

Stéphane Mallarmé

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Remorso

Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!

Olavo Bilac

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Amar é ser feliz

"Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as
pequenas satisfações que a vida me dava, mais claramente
compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida.

Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo.
O dinheiro não era nada, o poder não era nada.

Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.

A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes,
apesar de sua beleza.

Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que
sente. Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios
que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.

A felicidade é amor, só isto. Feliz é quem sabe amar.
Feliz é quem pode amar muito.

Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.

O amor não quer possuir.

O amor quer somente amar."

Hermman Hesse 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

"Eu ainda sou bem moço pra tanta tristeza e deixemos de coisa cuidemos da vida, pois se não chega à morte ou coisa parecida, e nos arrasta moço sem ter visto a vida."

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão – esta pantera – 
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Verdade precoce

Meu pai sempre me falava que amizade é coisa rara e dizia também, com orgulho, que contava nos dedos das mãos os poucos amigos que lhe sobraram ao longo do tempo. No entanto, eu, na minha cabeça dura, oca e no auge da minha ignorância, zombava e debochava da afirmação dele, achando que eu tinha vários e que essas pessoas iam caminhar junto comigo para todo o sempre. Doce ilusão! 

Hoje, aos 26 anos, percebi que o que ele me disse nada mais é que um "saber" adquirido com as vivências e frustrações; a verdade que não se encontra em livros, revistas, jornais, na TV, rádio, muito menos no google... E me vejo como meu velho. 

Conto nos dedos de uma única mão os que considero e admiro, e também me orgulho por saber que esses sim são verdadeiras jóias que lapidei com o tempo e tenho certeza que vou carregar com muito apreço e cuidado. Agradeço por ter conhecido precocemente essa verdade, pois assim aprendi a dá valor às pessoas que merecem e elas sim, têm de mim o melhor!

Henrique Ferreira

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Ao tempo 

Tempo, vais para trás ou para diante?
O passado carrega a minha vida
Para trás e eu de mim fiquei distante,
Ou existir é uma contínua ida
E eu me persigo nunca me alcançando?
A hora da despedida é a da partida

 
A um tempo aproximando e distanciando...
Sem saber de onde vens e aonde irás,
Andando andando andando andando andando

 
Tempo, vais para diante ou para trás?

Dante Milano

segunda-feira, 10 de junho de 2013

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.

Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.

Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!

Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. 

Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Clarice Lispector

domingo, 2 de junho de 2013

Problema não é amar. Amar, eu até amo! Problema mesmo é lidar com a rotina, as cobranças, os defeitos mútuos, a incompreensão, a imaturidade; mentiras e até verdades... é sentir a leveza se transformar em um fardo tão pesado que as costas não suportam carregar por muito tempo. É quando o sentimento deixa de ter um papel determinante para um relacionamento dá certo e passa a atuar como coadjuvante. Quem nunca escutou uma frase que diz: "viver só de amor não basta". Pois é, há um tempo, eu aprendi que não basta mesmo. Mas seria tão bom se isso não fosse verdade! Seria, apenas seria.

sábado, 13 de abril de 2013

Desabafo

É muito fácil julgar e apontar defeitos, ainda mais quando a pessoa é uma "desconhecida" (acredito que ninguém se conheça por completo, quanto mais conhecer o outro), na qual você só tem uma aproximação muito superficial e, às vezes, obrigatória. 

Quero ver é viver na pele os problemas das pessoas, pegar na bomba junto com elas... Garanto que você não quer. Na verdade, não procura nem saber o que acontece ou o que se passa... Sua verdade é absoluta e foda-se o resto! Pra você é muito mais fácil reparar no alheio, desvalorizar e desmerecer o próximo... Isso te ajuda a ser menos frustrado e até a esquecer um pouco o teu estado eterno de infelicidade, de pobreza de espírito.

Você não consegue admitir o seu fracasso como ser humano, mas acha conveniente humilhar e diminuir o seu SEMELHANTE. Tu esquece de viver a tua vida, de plantar o amor, de semear a harmonia e o respeito, pra infernizar a vida dos demais. E quando se trata de somar, multiplicar e "prosperar", tu te tornas ainda mais asqueroso e insensível. Não, eu não quero isso pra mim. Esse caminho é muito obscuro e não vou deixar me corromper jamais.

Um conselho: te auto-questiona, te autocritica antes de tudo. Te dou certeza que vais descobrir que tua condição não é tão diferente assim da de quem ousas estereotipar. Vais encontrar a mentira, a hipocrisia; o falso moralismo e muitos, mas muitos outros defeitos e máscaras. E é daí que vem o teu medo. Porque se questionar dói. E se descobrir dói mais ainda.

Pra gente assim, eu não me mostro. Sabe por que? porque não merece! Eu quero é distância. Por isso só vai ter de mim um pedaço ínfimo. Pode continuar na tua vida pequena e medíocre. Pode continuar cultivando teus valores bizarros e pondo em prática teu pensamento tacanho. Me deixa quieto aqui, na minha. Aceito minha condição e reconheço que sou pequeno, mas tento mudar. E você, o que faz se não julgar? Pára agora e reflete, olha pra si, faz tua parte. Quem sabe assim tua alma acalme.


Henrique Ferreira

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

"Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?"

domingo, 20 de janeiro de 2013

"Somente aquele que foi o mais sensível pode tornar-se o mais frio e o mais duro, para se defender do mais pequeno golpe - e esta própria couraça lhe pesa muitas vezes."

Goethe


"Você quer gênios simpáticos , bem aparados e podados, que possa exibir nas ruas das suas cidades sem constrangimento"

Wilhelm Reich, em Escute, Zé Ninguém