terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Os teus olhos são frios como espadas,
E claros como os trágicos punhais;
Têm brilhos cortantes de metais
E fulgores de lâminas geladas.

Vejo neles imagens retratadas
De abandonos cruéis e desleais,
Fantásticos desejos irreais,
E todo o oiro e o sol das madrugadas!

Mas não te invejo, amor, essa indiferença,
Que viver neste mundo sem amar
É pior que ser cego de nascença!

Tu invejas a dor que vive em mim!
E quantas vezes dirás a soluçar:
"Ah!Quem me dera, Irmã, amar assim!"

Florbela Espanca

domingo, 25 de novembro de 2012


Fico indignado com a quantidade de pessoas que sentem prazer em querer prejudicar o outro por puro esporte e diversão. Esses recalcados (as) do espírito opaco estão por toda parte, mas é no ambiente de trabalho que encontramos esse tipo de gente com mais facilidade.

Elas procuram despejar suas frustrações pessoais nos outros se valendo dos cargos que ocupam. Não procuram a melhora como ser humano porque só pensam em alimentar sua ganância, não tendo tempo para reflexão e para o questionamento. Tentam a todo custo contaminar os vulneráveis com discursos podres e mentiras repugnantes tendo como objetivo jogar as pessoas umas contra as outras.

Usam a religião e a fé como instrumentos para negar sua própria condição asquerosa e enganar aos míopes de sentimento... Pobres espíritos sem luz, quando se derem conta do quanto são infelizes, já não haverá mais tempo para nada. Estarão sem forças, velhos da mente e da carcaça, acompanhados apenas da vaidade, do arrependimento e da solidão.

Esses sim são os verdadeiros Zé-Ninguém. Presos a condição de serem fadados a infelicidade e a falta de amor próprio. Esses sim só vão atrair mascarados. Que assim como eles, buscam na máscara dar e receber a mentira. Tenho pena e fico triste, pois sei que o mundo está cheio dessas pessoas. Por isso o mal está cada vez mais forte.  Mas não vou deixar me contaminar jamais. Sou mais forte! Minha consciência está comigo e é nela que acredito. Quem me ensinou foi a vida e não os livros.


domingo, 4 de novembro de 2012

Utopia


Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."

sábado, 3 de novembro de 2012


Num mundo como este, onde nada é estável e nada perdura, mas é arremessado em um incansável turbilhão de mudanças, onde tudo se apressa, voa, e mantém-se em equilíbrio avançando e movendo-se continuamente, como um acrobata em uma corda – em tal mundo, a felicidade é inconcebível. Como poderia haver onde, como Platão diz, tornar-se continuamente e nunca ser é a única forma de existência? Primeiramente, nenhum homem é feliz; luta sua vida toda em busca de uma felicidade imaginária, a qual raramente alcança, e, quando alcança, é apenas para sua desilusão; e, via de regra, no fim, é um náufrago, chegando ao porto com mastros e velas faltando. Então dá no mesmo se foi feliz ou infeliz, pois sua vida nunca foi mais que um presente sempre passageiro, que agora já acabou."

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O jardim do amor

"Tendo ingressado no Jardim do Amor,
Deparei-me com algo inusitado:
haviam construído uma Capela
No meio, onde eu brincava no gramado.

E ela estava fechada; "Tu não podes"
Era a legenda sobre a porta escrita.
Voltei-me então para o Jardim do Amor,
Onde crescia tanta flor bonita,

E recoberto o vi de sepulturas
E lousas sepulcrais, em vez de flores;
E em vestes negras e hediondas os padres faziam rondas,
E atavam com nó espinhoso meus desejos e meu gozo."

William Blake

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Trecho

"Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora."

Fernando Pessoa

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Saco cheio


Todo mundo quieto em volta. Aí resolvi calar a boca. Afinal, como na fábula do lobo e do cordeiro: contra a força não há argumentos. Mas ando de saco muito cheio com essas coisas. De repente tô trabalhando num lugar que me obriga a ir contra tudo que penso e sinto. Não sei como resolver tudo isso. Mas tudo bem, tô calmo e ponderado, embora a vontade seja de agredir todo mundo, dizer meia dúzia de verdades e sair pisando duro. Não vou fazer nenhuma loucura.”

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Idealismo

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo
O amor na Humanidade é uma mentira.
E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?

Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado
— Alavanca desviada do seu fulcro —

E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!

Augusto dos Anjos

domingo, 16 de setembro de 2012

Em qual mentira vou acreditar?


O amor que idealizamos como sendo aquela coisa linda, bonitinha, fofinha, preciosa, eterna, e outros vários adjetivos que nos ensinam desde pequenos, não passa de uma doce ilusão. Algo que criaram e que a gente segue, busca, defende mas que nunca vai sentir, muito menos vivê-lo. É um conceito de amor impossível de ser alcançado, que só pode ser assistido, lido, escrito, idealizado!

Eu respeito, claro, a forma de cada um se enganar, afinal, é preciso acreditar na mentira que nos faz "bem". É, o amor e o interesse, lado a lado; numa perfeita sincronia, eu minto pra ele de noite e ganho um carro de dia. 

Henrique Ferreira

sábado, 11 de agosto de 2012

Parábola de Gibran

"Ainda ontem pensava que não era mais do que um fragmento trêmulo sem ritmo na esfera da vida. 

Hoje sei que sou eu a esfera, e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim. 

Eles dizem-me no seu despertar: 
" Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia sobre a margem infinita de um mar infinito." 

E no meu sonho eu respondo-lhes: 

"Eu sou o mar infinito, e todos os mundos não passam de grãos de areia sobre a minha margem." 

Só uma vez fiquei mudo. 
Foi quando um homem me perguntou: 
"Quem és tu?" 

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Psicologia Revolucionária


 Muitas vezes reparamos tanto no alheio que esquecemos de observar as nossas próprias atitudes, inquietudes e frustrações. Olhar pra dentro de si antes de apontar o erro do outro pode ser a chave para uma grande mudança interior e consequentemente exterior; de você com você, de você para o mundo e do mundo para você. Uma espécie de simbiose! Tentar identificar os seus problemas e a entender suas fraquezas é o começo de uma revolução em sua consciência. A melhora na sua condição deve iniciar, antes de tudo, tendo você como ponto de partida. Fato!

Henrique Ferreira

terça-feira, 31 de julho de 2012

Canção bêbada

"Estou bêbado de tristeza,
De doçura, de incerteza,
Estou bêbado de ilusão,
Estou bêbado, estou bêbado,
Bêbado de cair no chão.

Os que me virem caído
Pensarão que estou ferido.
Alguém dirá: "Foi suicídio!"
"É um bêbado!" outros dirão.

E ficarei estirado,
Bêbado, desfigurado.

Talvez eu seja arrastado
Pelas ruas, empurrado,
Jogado numa prisão.

Ninguém perdoa o meu sonho,
Riem da minha tristeza,

Bêbado, bêbado, bêbado,

Em mim, humilhada a glória,
Escarnecida a poesia,

Rasgado o sonho, a ilusão
Sumindo, a emoção doendo.

E ficarei atirado,
Bêbado, desfigurado."

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Entre uma decepção e outra, que tal uma pausa para aprender?

"Tem época na vida da gente que parece que os encontros 'amorosos' são mais uma provocação do que uma oportunidade de se sentir satisfeito e feliz... Assim, vamos contabilizando decepções e desacreditando na possibilidade de viver uma experiência positiva e motivadora. 

Quando isso acontece, creio que o melhor seja parar. Uma pausa para aprender. Ou melhor, antes apreender. Perceber o que está acontecendo, quais são nossos verdadeiros desejos e quais tem sido nossas atitudes para torná-los concretos. 

Muitas vezes, fazendo uma análise mais justa e desapegada, sem assumir nenhum papel, nem o de vítima das armadilhas da vida, nem da sacanagem dos outros e nem o de culpado, como se tudo o que fizéssemos estivesse definitivamente errado, terminamos descobrindo que há alguma incoerência nisso tudo. 

Só que para isso precisamos de tempo... e principalmente de coragem para admitir limitações, assumir pensamentos negativos e confiar mais na sabedoria da vida e seu ritmo. O que acontece, no entanto, é que a maioria de nós não quer esperar, não quer refletir. Tem apenas um único pensamento que alimentamos o tempo todo: quero namorar, quero ter alguém!!! 

Será que estar com alguém é o mesmo que estar feliz? Pode ser que sim, mas pode ser que não... e se por qualquer motivo você não tem ficado com quem deseja, talvez seja o momento ideal para um intervalo, tão útil entre uma decepção e outra... 

Tempo de se observar, de observar as pessoas e ouvir o que elas dizem. Tempo de aprender, crescer, ter uma nova conduta, desenvolver uma nova postura. Aguardar até que a vida lhe mostre qual é o melhor caminho a seguir... mas para ver, você precisa estar atento... sem tanta ansiedade, sem tanto desespero para tentar fazer com que as coisas aconteçam do jeito e na hora que você quer... 

E se nenhuma resposta vier, talvez signifique que você precisa ver e ouvir com o coração. Respeitar o silêncio. Aceitar a ausência de quem você tanto deseja encontrar... Talvez não haja uma resposta e nem haja uma explicação. 

Às vezes, simplesmente não existem respostas nem explicação. Apenas a vida. Apenas as pessoas. Apenas o mundo. Apenas a dor e o amor. Apenas... 

E se insistirmos em não aceitar, em brigar, em nos rebelar, em nos revoltar... conseguiremos tão somente mais dor... e menos amor. Aceite que você não tem o controle, que você não pode decidir sozinho, que o universo tem seu próprio ritmo. Faça o que está ao seu alcance; faça a sua parte... e bem feito; da melhor maneira que puder... 

E o que não puder, entregue e espere... porque embora diga sabiamente a música "quem sabe faz a hora, não espera acontecer", tem ocasiões nesta vida em que quem sabe espera acontecer e respeita a hora de não fazer... até que um dia, o amor de repente acontece... porque seu coração estava exatamente onde deveria estar para ser encontrado!"

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Despedida

"E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval — uma pessoa se perda da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito — depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado — sem glória nem humilhação.

Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também uma lembrança boa; que não será proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito.

E que houve momentos perfeitos que passaram, mas não se perderam, porque ficaram em nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas que essa solidão ficou menos infeliz: que importa que uma estrela já esteja morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?

Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou; não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil. 

Ah, talvez valesse a pena dizer que houve um telefonema que não pôde haver; entretanto, é possível que não adiantasse nada. Para que explicações? Esqueçamos as pequenas coisas mortificantes; o silêncio torna tudo menos penoso; lembremos apenas as coisas douradas e digamos apenas a pequena palavra: adeus. 

A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo."

Rubem Braga


Je ne parlerai pas,
je ne penserai rien.
Mais un amour immense
entrera dans mon âme.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Coração aprisionado


Ninguém é de ninguém! Essa história de achar que o outro te pertence como uma propriedade ou algo que você compra em uma vitrine é a maior burrice que pode existir. Não se constrói um relacionamento saudável dessa maneira... Viver essa mentira só vai te fazer sofrer e perder um precioso tempo, que por experiência própria te fará muita falta depois. Fora a mágoa, o ressentimento e o ranço que podem ficar como consequências. O amor jamais será amor se cultivado dentro de uma jaula . Ele não cabe em uma bolsa, frasco ou pote de margarina: o que ele precisa é respirar liberdade. "Coração aprisionado não canta, não canta amor!"


Henrique Ferreira

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Doce tristeza

"Assim, minha tristeza voltando sempre, e me achando mais perdida aos meus olhos - como a todos os olhos que quisessem me encarar, se eu não tivesse sido condenada para sempre ao esquecimento de todos! - eu tinha cada vez mais fome de sua bondade. Com seus beijos e abraços amigos, era mesmo um céu, um escuro céu, onde eu entrava, e onde gostaria de ser deixada, pobre, surda, muda, cega. Já eu me acostumava. Eu nos via como duas boas crianças, livres para passear no Paraíso de tristeza."

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Insalubre

"Chega! Prometo que de hoje em diante, empreenderei todas as minhas forças nas fraquezas humanas. Serei uma péssima referência para os jovens, velhos, cães e o que mais tiver ao meu alcance.

O que depender de mim, influenciarei da pior maneira possível, em qualquer ocasião. Semearei o pessimismo, a intolerância, a hipocrisia, o desalento, a mesquinhez, o sarcasmo e o menosprezo.

Serei absurdamente atrevido em público, praticante ardoroso do politicamente incorreto e antiecológico até o osso! Distribuirei, sempre que possível, injúrias e chutes nas canelas.

Não deixarei escapulir a mísera oportunidade para corromper, denegrir e esfacelar a cultura, o senso de justiça, os ideais, a moral, a beleza e a candura alheia. Que assim seja!"

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Qasida (Siba)

lembro bem do momento em que parti 
só não sei quantas vezes retornei
como sempre, na hora em que cheguei 
me dei conta que errei voltando aqui
as ruínas da casa estão aí
só paredes em pé, não tem telhado
falta porta, está tudo escancarado
mas o ar não se mexe pra passar
já vi tudo, só falta acreditar
que o portão do retorno está trancado


não adianta tirar de onde não tem
nem tentar encaixar onde não cabe
sem saber alguém tenta, e quando sabe
já não dá nem um passo mais além
pois de trás para frente nada vem
o que foi já não é e nem será
e da frente pra trás, ninguém irá
desfazer o que fez, certo ou errado
vou deixar este canto abandonado
para sempre do jeito como está


me esparramo ao relento, o chão é torto
canta um grilo Escondido e mais ninguém
vou dormir neste abrigo que só tem
sede, fome, sujeira, desconforto
pra sonhar que acordei de um sonho morto
no quintal de uma casa onde eu podia
não correr contra o tempo enquanto via
teu sorriso indo e vindo num balanço
sem voltar pra você eu não descanso
minha casa é você e eu já sabia



A Servidão Moderna


À medida que a opressão se estende por todos os setores da vida, a revolta toma aspecto de uma guerra social. Os motins renascem e anunciam a futura revolução.

A destruição da sociedade mercantil totalitária não é um caso de opinião. É uma necessidade absoluta num mundo que já está condenado. Pois o poder está em todos os lados, deve ser por todas as partes e todo o tempo que devemos combatê-lo.

A reinvenção da linguagem, o transtorno permanente da vida cotidiana, a desobediência e a resistência são as palavras mágicas contra a ordem estabelecida. Mas para que dessa revolta surja uma revolução, é preciso reunir as subjetividades em uma frente comum.

É na unidade de todas as forças revolucionárias que devemos trabalhar. Isso só se pode conseguir quando temos consciência dos nossos fracassos do passado: nem o reformismo estéril, nem a burocracia totalitária não podem ser uma solução para nossa insatisfação. Trata-se de inventar novas formas de organização e de luta.

A auto gestão nas empresas e a democracia direta na escala comunal constituem as bases dessa nova organização que deve ser anti-hierárquica tanto na forma quanto no conteúdo. O poder não é pra ser conquistado é pra ser destruído!


terça-feira, 8 de maio de 2012


Largue as unhas do meu coração!

Soneto da Separação


"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente
Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente"

terça-feira, 10 de abril de 2012

O escorpião

"Um mestre do Oriente viu quando um escorpião estava se afogando e decidiu tirá-lo da água, mas quando o fez, o escorpião o picou. Pela reação de dor, o mestre o soltou e o animal caiu de novo na água e estava se afogando de novo. O mestre tentou tirá-lo novamente e novamente o animal o picou. Alguém que estava observando se aproximou do mestre e lhe disse:
— Desculpe-me, mas você é teimoso! Não entende que todas às vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo?
O mestre respondeu:
— A natureza do escorpião é picar, e isto não vai mudar a minha, que é ajudar.
Então, com a ajuda de uma folha o mestre tirou o escorpião da água e salvou sua vida.

Não mude sua natureza se alguém te faz algum mal; apenas tome precauções. Alguns perseguem a felicidade, outros a criam. Preocupe-se mais com sua consciência do que com a sua reputação. Porque sua consciência é o que você é, e sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam, não é problema nosso... é problema deles."
 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Divina Comédia Humana



Gênio da música brasileira, Belchior! Essa música me traz paz e boas recordações.

Nosso tempo, sem dúvida... prefere a imagem à
coisa, a cópia ao original, a representação à
realidade, a aparência ao ser... O que é sagrado
para ele, não passa de ilusão, pois a verdade
está no profano. Ou seja, à medida que
decresce a verdade a ilusão aumenta, e o
sagrado cresce a seus olhos de forma que o
cúmulo da ilusão é também o cúmulo do
sagrado.

Feuebach

O Impossível


Ah! essa vida de minha infância, o largo caminho sobre qualquer tempo, sobrenaturalmente sóbrio, mais desinteressado que o melhor dos mendigos, orgulhoso de não ter pátria, nem amigos, que idiotice! - E somente agora o compreendo.- Tive razão ao desprezar esses bons sujeitos que não perderiamocasião de uma carícia, parasitas do asseio e da saúde de nossas mulheres, hoje que elas tão pouco se entendem conosco.Tive razão de todos os meus desprezos: por isso me evado! Evado-me? Eu me explico.Ainda ontem suspirava: "Céus! somos tantos os condenados cá embaixo! Quanto a mim faz tanto tempo que pertenço a essa legião!Conheço-os um por um. Aliás nos reconhecemos sempre; detestamo-nos. Ignoramos a caridade Somos, porém, corteses;nossas relações com o mundo corretíssimas". É assombroso. O mundo! Os mercadores, os ingênuos! - Não estamos desonrados. -Mas os eleitos, como nos receberiam? Pois há criaturas intratáveis e joviais, os falsos eleitos, posto que necessitemos audácia ou humildade para abordá-las. São os únicos eleitos. Não são os abençoadores!Ao recobrar dois cêntimos de razão, - isso passa logo!- constato que os meus males vêm de não haver a tempo refletido que estamos no Ocidente. Os pântanos ocidentais! Não que acredite alterada a luz,gasta a forma, desviado o movimento... Bom! Eis que meu espírito quer a todo o transe ocupar-se com todos os desenvolvimentos cruéis que sofreu o espírito desde a morte do Oriente... Meu espírito assim o quer!...Acabaram-se os dois cêntimos de razão! O espírito é autoridade,ele exige que eu permaneça no Ocidente. Seria preciso fazê-lo calar para eu terminar como desejara.Mandava ao diabo as palmas dos mártires, os esplendores da arte, o orgulho dos inventores, o ardor dos salteadores; retornava ao Orientee à sabedoria primitiva e eterna. - Até parece um sonho de grosseira preguiça! Todavia, não pensava na delícia de escapar aos sofrimentos modernos. Não tinha em mira a sabedoria bastarda do Alcorão. -Mas não é um suplício real depois desta declaração da ciência, que o cristianismo, o homem se engane, se prove evidências, infle deprazer ao repetir essas provas e só assim viva? Tortura sutil, nécia; fonte de minhas divagações espirituais. Talvez a natureza pudesse aborrecer-se! O Sr. Sabe-Tudo nasceu com o Cristo.Não será isto porque cultivamos a bruma? Ingerimos febre com os nossos legumes aquosos. E a embriaguez! O tabaco! e a ignorância eas dedicações! - tudo isto está muito distante do pensamento da sabedoria do Oriente, a pátria primeira? Para que um mundo moderno, se tais venenos se engendram?Argumentarão os homens da Igreja: "Está certo. Mas queres ter e ferir ao Éden. Ora, nada conclui a teu favor na história dos povos orientais". - Mas é isso mesmo; é ao Éden que me refiro! Que significa para o meu sonho, esta pureza das raças antigas!E os filósofos: "O mundo não tem idade. A humanidade desloca-se tão somente. Estás no Ocidente, livre porém de habitar o teu Oriente, por mais antigo que o desejes - e de aí habitar a teu bel prazer. Não sejas um vencido". - Filósofos, vós pertenceis ao vosso Ocidente.Espírito meu, cautela. Abandona os meios violentos de salvação. Exercita-te! - Ah! a ciência não anda assaz ligeira para nós.- Mas compreendo que meu espírito dorme.Se estivesse sempre desperto, a partir deste instante, alcançaríamos logo a verdade que provavelmente nos rodeia com seus anjos em pranto!... - Se até agora tivesse estado desperto, seria porque não havia cedido aos instintos deletérios numa época imemorial!...- Se houvesse estado sempre desperto, eu vogaria em plena sabedoria!...Ó pureza! pureza!É este minuto de vigília que me revelou a visão da pureza! - Pelo espírito vai-se a Deus!Dilacerante infortúnio!


Rimbaud

segunda-feira, 2 de abril de 2012


"Antigamente, se bem me lembro, minha vida era um festim no qual todos os
corações exultavam, no qual corriam todos os vinhos"

"A quem me alugar? Que besta é preciso adorar? Que santa imagem
atacar? Que corações destruirei? Que mentira devo sustentar? Sobre
que sangue caminhar?"

domingo, 1 de abril de 2012

"Escrevia silêncios, noites, anotava o inexprimível.
Fixava vertigens.
Criei todas as festas, todos os triunfos, todos os dramas.
Tentei inventar novas flores, novos astros, novas carnes, novos idiomas"











quinta-feira, 22 de março de 2012

A ganância corrói a alma
Mas o homem é tolo, acha que o dinheiro é consolo
E vive à trabalhar, se concentrando em faturar

Muito fascinados com matéria
Analisam o sapato, o prédio, o carro
Insanos! vivem num eterno engano
Sem saber o que realmente importa


O amor que move e transforma

Procuram ser felizes a todo custo
Respostas querem para tudo
Ostentam seu luxo mesmo na cegueira
Xingam, roubam e matam por besteira
Imaginam que conseguem ir além
Olhando o outro com desdém

Henrique Ferreira

quarta-feira, 21 de março de 2012

Verso preso

"Um verso preso é um tiro
Que a arma não disparou
Pois o gatilho travou
E o tambor não deu o giro
Se escuta só o suspiro
De alguém que escapa assombrado
E o atirador, frustrado
Remóe a raiva no dente
Sentindo o mesmo que sente
Alguém que foi baleado"

terça-feira, 20 de março de 2012


"Navegar é preciso, viver não é preciso"

Salmo Perdido

"Creio num deus moderno,
Um deus sem piedade,
Um deus moderno, deus de guerra e não de paz.

Deus dos que matam, não dos que morrem,
Dos vitoriosos, não dos vencidos.
Deus da glória profana e dos falsos profetas.

O mundo não é mais a paisagem antiga,
A paisagem sagrada.

Cidades vertiginosas, edifícios a pique,
Torres, pontes, mastros, luzes, fios, apitos, sinais.
Sonhamos tanto que o mundo não nos reconhece mais,
As aves, os montes, as nuvens não nos reconhecem mais,
Deus não nos reconhece mais."

domingo, 18 de março de 2012


Entrevista com o mestre do existencialismo, Jean Paul Sartre. Nesse vídeo ele fala sobre os seus conceitos filosóficos. Conhecimento puro, vale a pena conferir!

POEMA DO FALSO AMOR


 O falso amor imita o verdadeiro
Com tanta perfeição que a diferença
Existente entre o falso e o verdadeiro

É nula. O falso amor é verdadeiro
E o verdadeiro falso. A diferença
Onde está? Qual dos dois é o verdadeiro?

Se o verdadeiro amor pode ser falso
E o falso ser o verdadeiro amor,
Isto faz crer que todo amor é falso

Ou crer que é verdadeiro todo amor.
Ó verdadeiro Amor, pensam que és falso!
Pensam que és verdadeiro, ó falso Amor!

Dante Milano

Alma vazia


E vais para terra e nada vai conseguir mudar... Tua passagem é curta e o que fazes aqui, aqui mesmo vais pagar. Tua moda vazia, teu peito de cirurgia, tem quem há de levar. Existe o senhor tempo para te contar, que nada disso vai adiantar. Tu vai envelhecer e menor ainda vais ser. Mas entende-se! ó pobre existência, ó grande demência, achar que a ignorância é inteligência. Tua felicidade instantânea baseada em tua conta corrente, te faz esquecer que a vida é o maior presente e que teu dinheiro jamais irá comprar. Teu poder vai te cegar e como esperado só o verde enxergará. O verde da ganância, o verde da exploração, o verde do orgulho, do status, do ter para ser. E é aqui que tu mata e é aqui que tu morre! Deixando tua vida, tua alma, cada dia mais pobre. O que esperar de ti mesmo? Se olhas para o lado e só enxergas o medo, é isso que te traz a dúvida, é isso que te traz a certeza, vais morrer! A única verdade, o resto é tudo uma grande mentira, uma grande invenção. Eu sou uma grande mentira, você é uma grande mentira... O que te faz se iludir por e com tão pouco? O que te faz achar que és algo maior? Olha pra ti, tu és minúsculo e medíocre, sujo e fedorento. 


Miserável ser, mata pra viver, vive pra morrer, vai ser comido por vermes! Diferentes de ti? Não, maiores que ti? Sim! Vivem de ti, se alimentam do teu tão prezado corpo! Não é assim que te diferes dos outros animais, porque os comes e os bebes e se achas melhor e mais inteligente porque crias automóveis e arranha-céus, porque polui e desmata, porque escraviza e maltrata? Pois saiba homem ignorante, que até o burro é melhor que você, e que aquele verme que vai te ingerir é um agente da limpeza que varre para dentro do seu corpo o lixo que é você!


Henrique Ferreira

VOZES ABAFADAS


"O ruído vem de longe e quase não se escuta.
Passa no ar ou ruge dentro de nossos ouvidos?
Vem do centro da terra ou do terror das consciências?

São crianças chorando com medo da vida?
Soluços de mães que ignoram as causas?
Gritos alucinados de homens caídos sob as
 rodas do carro terrível?

São os últimos brados das pátrias esfaceladas,
Os uivos do vento nas bandeiras das nações  vencidas,
Ou no ventre do caos os vagidos do mundo futuro?

Cala poesia,
A dor dos homens não se pode exprimir em nenhuma língua.
Talvez a exprimisse o ai da cabeça separada do corpo que rola ensanguentada, 
Talvez a escrevesse a mão hirta que no último
gesto de horror largou a espada,
Talvez a dissesse o grito sufocado, o pranto que
salta, o suor frio, o olhar esbugalhado...
Ante o ricto dos mortos compreendo que a dor não se exprime
Em língua nenhuma e ainda que os homens
falassem todos uma só língua."

Despertar

Viver se perguntando, refletindo e se questionando, por vezes dói um pouco... Mas é uma dor que dá por dentro e não passa na hora, ela perdura por um tempo e depois vai embora. Se novamente ponho-me a pensar, me questiono e a dor volta. Minha alma irriquieta está fadada a sentir uma angústia sem fim... Desconheço minha verdade e isso me suga as energias, me deixa desnorteado, sem prumo, nem rumo. Sou digno de pena? Minha condição de ser humano me faz materialista, egoísta, oprimido, opressor, acuado, sem amor, triste. Não! não sou digno de pena e nem você, Narciso!


Se não há caminhos, não há esperança; então vamos viver dessa angústia, é o que nos resta. Se apegamos ao vazio, tentamos burlar nossa própria desgraça, mas não adianta, onde andará tua ajuda santa? É agora que a dor se tornar mais aguda, chega a corroer o peito e a dilacerar  tua alma! O que fazer? o que fará? Felizmente não há como lutar. Não existem armas para combater tua condição, não existe dinheiro que compre tua própria traição. A salvação nunca existiu nem nunca existirá, Praga!


Henrique Ferreira