domingo, 18 de março de 2012

VOZES ABAFADAS


"O ruído vem de longe e quase não se escuta.
Passa no ar ou ruge dentro de nossos ouvidos?
Vem do centro da terra ou do terror das consciências?

São crianças chorando com medo da vida?
Soluços de mães que ignoram as causas?
Gritos alucinados de homens caídos sob as
 rodas do carro terrível?

São os últimos brados das pátrias esfaceladas,
Os uivos do vento nas bandeiras das nações  vencidas,
Ou no ventre do caos os vagidos do mundo futuro?

Cala poesia,
A dor dos homens não se pode exprimir em nenhuma língua.
Talvez a exprimisse o ai da cabeça separada do corpo que rola ensanguentada, 
Talvez a escrevesse a mão hirta que no último
gesto de horror largou a espada,
Talvez a dissesse o grito sufocado, o pranto que
salta, o suor frio, o olhar esbugalhado...
Ante o ricto dos mortos compreendo que a dor não se exprime
Em língua nenhuma e ainda que os homens
falassem todos uma só língua."

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