quinta-feira, 12 de novembro de 2015

"É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado,
moureja o dia inteiro indignado,
come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto.
Falta-lhe o romantismo cívico da agressão.
Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados"
Miguel Torga

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Elegia (1938)


Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan


Carlos Drummond de Andrade

sábado, 23 de agosto de 2014

Se a gente racionalizar demais, a vida perde a graça. Deve ser por isso que tantos pensadores importantes, assim como artistas e até pessoas comuns, as quais trocaram os sonhos pela dureza da vida real, nua e crua, sucumbiram a tristeza, ao ódio, ao pessimismo e terminaram frios, sós, mal amados... Tudo é tão efêmero e frágil, que aprendi a viver intensamente cada momento, tentando aproveitar da melhor forma, do melhor jeito, dando valor as pequenas coisas, aos singelos gestos. Não vou e nem quero terminar como um velho ranzinza daqueles que passou a vida querendo provar qualidades e virtudes, somando bens conquistados passando em cima dos outros, procurando soluções eternas e se aperreando por causa de merda: um frustrado; nem muito menos acabar como aquele tipo "sábio" que está sempre cheio das ideias e dos pensamentos tirados dos livros nunca postos em prática: o mais puro hipócrita. Isso tudo não é nada, ao menos para mim. Prefiro continuar com os sonhos, a ilusão, a fantasia; vendo a beleza no simplório, no pouco. Que me achem burro, ignorante, feio e esdruxulo. Para mim é melhor. Não me misturo. 

terça-feira, 8 de julho de 2014

Aprenda a valorizar

Quem valoriza você.

Assim irá aprender que:

Quem não te valoriza,

É porque não te ama.

Porque quem te ama, cuida.

Porque quem te ama, se importa.

Porque quem te ama, se preocupa.

Porque quem te ama, demonstra.

Porque quem te ama, até se anula.

Porque quem te valoriza, te ama.

E busca, fazer-te feliz.

Quem não te dá valor:

Ama somente a si mesmo.

E se você insistir,

Perderá ainda mais a sua autoestima, o seu valor.

Viverás assim em rancor, até aprender.

Tendo por companheira e professor,

A solidão e muita dor.

Autor desconhecido

domingo, 20 de abril de 2014

Versos do Esquecimento

Procuro nas madrugadas regadas a álcool 
Nas noitadas que não cessam, em rostos flutuantes
Tirar da mente por um instante, a tua presença
Ainda forte, viva, impactante

Tento assim me esquivar da saudade que dói
A falta do corpo, do jeito do cabelo
Me lembrar do cheiro, da pele, do beijo
Pensar num gesto, num toque, 
No carinho ou apenas o ter por perto

E do nada me pego pensando: por onde andas?
Está divagando, curtindo, dançando?
Será que ainda pensa em mim?
Aí me vem o desespero da dúvida

E procuro no vazio das pessoas,
Nas conversas em mesas de bar
Um conforto, um pouco de bem estar
Que por momentos, eu tenho, até você chegar

Vai, vai, vai, mas não esquece de nada



quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

"...e que nada nem ninguém é mais importante do que nós próprios. E não devemos negar-nos nenhum prazer, nenhuma experiência, nenhuma satisfação, desculpando-nos com a moral, a religião ou os costumes."

Sade

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Éramos dois donos dos mesmos sonhos,
Éramos de nossa mesma luta diária,
Éramos de amor, uma grande colônia,
Que se refazia nas noites por mãos solidárias.

Éramos de pão e vinho, de um Deus que se doara,
Éramos como a flor e o espinho, ali chegados,
Eram nossas dores partidas ao meio, choradas,
Eram nossas as mesmas lágrimas, que nossos olhos molhavam.

Éramos como mãos seguras no mesmo cabo,
A força depreendida, o que realizávamos,
Do estampido amor, dínamo, do tempo arado,
Fomos os plantadores dos primeiros ramos.

Fomos até hoje crepúsculo, e manhã nascente,
Somos complacentes das dores que passam os outros,
Somos com a faca e bainha, que se cabem,
A não deixar espaço, e somos o ferro e o couro.

Naeno Rocha

sábado, 2 de novembro de 2013

BRISA MARINHA

A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,
Ébrios de se entregar à espuma e aos céus
[ imensos.
Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar
Ó noites! nem a luz deserta a iluminar
Este papel vazio com seu branco anseio,
Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio. 
Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas,
Ergue a âncora em prol das mais estranhas
[ plagas!

Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,
Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!
E é possível que os mastros, entre ondas más,
Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem
[ mas-
Tros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar...
Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do
[ mar!

Stéphane Mallarmé

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Remorso

Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!

Olavo Bilac

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Amar é ser feliz

"Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as
pequenas satisfações que a vida me dava, mais claramente
compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida.

Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo.
O dinheiro não era nada, o poder não era nada.

Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz.

A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes,
apesar de sua beleza.

Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que
sente. Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios
que definhavam angustiados pelo medo de sofrer.

A felicidade é amor, só isto. Feliz é quem sabe amar.
Feliz é quem pode amar muito.

Mas amar e desejar não é a mesma coisa.
O amor é o desejo que atingiu a sabedoria.

O amor não quer possuir.

O amor quer somente amar."

Hermman Hesse