sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Elegia (1938)


Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan


Carlos Drummond de Andrade

sábado, 23 de agosto de 2014

Se a gente racionalizar demais, a vida perde a graça. Deve ser por isso que tantos pensadores importantes, assim como artistas e até pessoas comuns, as quais trocaram os sonhos pela dureza da vida real, nua e crua, sucumbiram a tristeza, ao ódio, ao pessimismo e terminaram frios, sós, mal amados... Tudo é tão efêmero e frágil, que aprendi a viver intensamente cada momento, tentando aproveitar da melhor forma, do melhor jeito, dando valor as pequenas coisas, aos singelos gestos. Não vou e nem quero terminar como um velho ranzinza daqueles que passou a vida querendo provar qualidades e virtudes, somando bens conquistados passando em cima dos outros, procurando soluções eternas e se aperreando por causa de merda: um frustrado; nem muito menos acabar como aquele tipo "sábio" que está sempre cheio das ideias e dos pensamentos tirados dos livros nunca postos em prática: o mais puro hipócrita. Isso tudo não é nada, ao menos para mim. Prefiro continuar com os sonhos, a ilusão, a fantasia; vendo a beleza no simplório, no pouco. Que me achem burro, ignorante, feio e esdruxulo. Para mim é melhor. Não me misturo. 

terça-feira, 8 de julho de 2014

Aprenda a valorizar

Quem valoriza você.

Assim irá aprender que:

Quem não te valoriza,

É porque não te ama.

Porque quem te ama, cuida.

Porque quem te ama, se importa.

Porque quem te ama, se preocupa.

Porque quem te ama, demonstra.

Porque quem te ama, até se anula.

Porque quem te valoriza, te ama.

E busca, fazer-te feliz.

Quem não te dá valor:

Ama somente a si mesmo.

E se você insistir,

Perderá ainda mais a sua autoestima, o seu valor.

Viverás assim em rancor, até aprender.

Tendo por companheira e professor,

A solidão e muita dor.

Autor desconhecido

domingo, 20 de abril de 2014

Versos do Esquecimento

Procuro nas madrugadas regadas a álcool 
Nas noitadas que não cessam, em rostos flutuantes
Tirar da mente por um instante, a tua presença
Ainda forte, viva, impactante

Tento assim me esquivar da saudade que dói
A falta do corpo, do jeito do cabelo
Me lembrar do cheiro, da pele, do beijo
Pensar num gesto, num toque, 
No carinho ou apenas o ter por perto

E do nada me pego pensando: por onde andas?
Está divagando, curtindo, dançando?
Será que ainda pensa em mim?
Aí me vem o desespero da dúvida

E procuro no vazio das pessoas,
Nas conversas em mesas de bar
Um conforto, um pouco de bem estar
Que por momentos, eu tenho, até você chegar

Vai, vai, vai, mas não esquece de nada